27/1/2018 a 21/4/2018 Pedro Cabral Santo apresenta “Endless” no Centro Cultural Vila Flor

“Endless” é o título da exposição de Pedro Cabral Santo que irá habitar a área expositiva do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, nos primeiros meses do ano.

cardapio.pt @ 22-1-2018 13:01:34

No piso 0 do Palácio Vila Flor, o público poderá encontrar um conjunto de obras que o artista tem vindo a produzir ao longo da sua carreira. No piso 1, Pedro Cabral Santo apresentará uma obra inédita, intitulada “Comunidade”, uma instalação/site specific em que o artista presta uma homenagem a várias pessoas que tiveram influência no seu percurso profissional.

Organizando-se numa disposição criativa que atenta contra as lógicas mercantilista, a arte de Pedro Cabral Santo parece escapar às práticas apressadas de avaliação, aquisição e venda. Por meio de um conjunto de peças sensíveis, cuja presença está fora do esquema tutelar da componente economicista da arte, o artista estabelece relações com diferentes tipos de objetos e materiais que, pela sua natureza, são trabalhados e associados através de uma visão pessoal; dá prioridade a sentimentos cujos particularismos prosperam em ambientes de relações humanas intensas e poderosamente intimistas. A exposição de Pedro Cabral Santo, no Centro Cultural Vila Flor, reflete problemas sobre a finalidade da obra e do papel do artista perante o público recetor.

Hoje, paira sobre a arte uma espécie de crise de identidade, em que a presença do negócio e do mercado, deformam o seu significado original. Numa sociedade de consumo, o dinheiro compra tudo, mas também controla o que acontece; quanto mais as comunidades evoluem e se diferenciam tecno-cientificamente, parecem menos dispostas a cooperarem em processos tão simples e despojados, como o gozo de sentir o gosto na pacificação e contemplação. O simbólico, o misterioso, o inacessível, o obscuro, o imprevisto, perderam a sua energia transformadora, havendo sinais preocupantes quanto à banalização, vulgaridade, esgotamento, saturação das manifestações artísticas...

Face à mudança de paradigma, o posicionamento ético de Cabral Santo assume grande relevância. Em primeiro lugar, a sua prática criativa concretiza-se segundo uma honestidade inusitada e uma forma impoluta e extremamente íntegra de se posicionar no mundo. Em segundo, quando os artistas são vistos como alvos a perseguir, valor de referências compreendidas pelos compradores/consumidores, Cabral Santo move-se no meio artístico, de maneira autónoma e independente, explorando problemas complexos do processo criativo e do dilema do autor na sua relação com o mercado. A obra deste artista não se submete às lógicas do mercado, nem à necessidade de elaborar discursos que a justifiquem e diferenciem das demais, recusando factos e argumentos; estes são as duas faces da mesma moeda; o mercado da arte, que deseja persuadir e convencer para vender e negociar, está contaminado por irregularidades de critério e valoração.

Assim, neste momento estranho onde prolifera a imposição de discursos, a obra de Cabral Santo, vagueia silenciosamente nos interstícios do sistema, acompanhada pelo seu imaginário pessoal, como circuito de informação paralelo; sem se anunciar alternativo, autónomo, independente ou livre, prefere funcionar como contrapeso anónimo e discreto, relativamente a esquemas ostensivos de relações públicas, repletos de narrativas avalizadoras, muitas vezes vagas e imprecisas, sustentadas em textos de leitura e interpretação redundantes.

A avaliação de uma obra estrutura-se segundo a dimensão da procura, o que distorce desde logo os princípios de uma ética do trabalho que, segundo Bauman, é uma “labuta dura e constante, considerada receita para uma vida meritória e piedosa, uma regra básica da ordem social”. Quando a apreciação positiva é argumentação crítica, declarações voláteis, pragmáticas, materialistas, calculistas e mensuráveis a favor de determinada obra, essa ética é deturpada.

A obra de Pedro Cabral Santo encontra os seus fundamentos na simplicidade de processos e materiais, muitos deles de natureza perecível; numa atitude de recusa face a um sistema que faz valorações quantitativas baseadas no tempo de vida das obras, o artista mostra-se indiferente, preferindo um caminho solitário. Simultaneamente reitera ser possível alcançar-se um estado de razoável “felicidade subjetiva”, que depende de valores não negociáveis. Assim, as suas peças são estranhas a avaliações e quantificações, isto é, insuscetíveis de serem trocadas numa lógica consumista. A sua obra pode ser entendida como doação, algo que espera reações e se dá ao mundo sem restrições, nem limites; nela está implícita a esperança de mudar, procurando um mundo melhor em que, segundo o projeto modernista, a arte seria um dos principais veículos de propagação e uma das dimensões mais importantes da vida. Julgava-se que a cultura desencadearia liberdade, autonomia e independência, assim como no sentido crítico.

É a utilização de imagens vulgares o que melhor exibe o distanciamento ético e irónico do artista, face ao poder tecnológico e à invisibilidade das forças do mercado; a descodificação da obra de Cabral Santo dá-se a vários níveis, de acordo com o suporte que utiliza e o modo como os associa, e só esta forma de compreensão nos permite discernir as sobreposições de um trabalho heterogéneo, experimental, lúdico, despojado, simples e cru, muitas vezes não detetável ao primeiro contacto. Não procurando soluções agradáveis efeitos fáceis, nem atavios visuais, o autor tece, com um rigor quase científico, visões irónicas e idiossincráticas sobre o mundo, sujeito a um ordenamento tecnocientífico global. Cabral Santo recusa, de maneira indireta, a visão normativa da arte e faz uma apologia, através da sua liberdade pessoal, da recuperação do espírito de artífice, sentido como direito de experimentar sem concessões. As suas peças evidenciam uma negação subtil, por meio de abordagens corajosas num contexto cultural que fomenta cedências e dependências.

A obra de Pedro Cabral Santo permite aceder a um espírito peculiar em conflito consigo próprio e com o mundo, envolvido numa pesquisa de carácter expedicionário, curioso e sensível que perceciona experiências construtivas, abrangentes e íntimas que são o fruto do seu discernimento pessoal. O seu trabalho reafirma a importância de um esforço, de uma luta por oportunidades de atingir plenitudes de sentido, num processo de autodescoberta que realça as qualidades pessoais, face à crescente imposição de restrições limitadoras da livre escolha por parte de um sistema monotemático.

A exposição “Endless”, de Pedro Cabral Santo, inaugura no dia 27 de janeiro e poderá ser visitada até ao dia 21 de abril, no Palácio Vila Flor, de terça a sábado, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 19h00.


Lista de obras

1 - 1990 - 4 chairs, 1 space
2 - 1996 - Oxido (play Europe)
3 - 2002 - Pulizia (omaggio a Piero Manzoni)
4 - 2005 - O Murro de Courbet
5 - 2008 - Sunrise (Deep in my heart I Wish to wash the sun)
6 - 2008 - Ponto Azul
7 - 2008 - 250cm d´amour a Constanti
8 - 2009 - Su Pressione
9 - 2010 - Jumping Jet out of the Sky (Sea of madness)
10 - 2010 - Just a Simple Flower
11 - 2014 - Icaro II (Up, Up into the sky)
12 - 2016 - Água de Alfarroba
13 - 2017 - Pinocchio è malato
14 - 2017 - Comunidade


Informações

Data: 27 de janeiro a 21 de abril de 2018

Local: Palácio Vila Flor, Guimarães

Horário: Terça a Sábado, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 19h00.

cardapio.pt @ 22-1-2018 13:01:34


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