5/6/2025 a 14/6/2025 Festivais Gil Vicente projetam o amanhã e fazem o teatro respirar como nunca
De 5 a 14 de junho, em Guimarães
O teatro entra em cena de forma resplandecente em Guimarães, de 5 a 14 de junho, com a 37ª edição dos Festivais Gil Vicente a prosseguir a trajetória da deteção e afirmação do novo talento geracional, da renovação teatral do país, e a propor, no seu programa, um olhar crítico sobre as novas formas de representação desta arte que reflete e interpela a sociedade de modo permanente. Para além de duas estreias absolutas (Era Rolim e Gaya de Medeiros com Ary Zara), resultantes da atribuição das bolsas de criação Amélia Rey Colaço e Projeto CASA, esta edição destaca obras de diferentes criadoras e criadores que abrem caminho a outras perspetivas de interpretar e construir o (nosso) mundo, através do regresso de Pedro Gil às encenações com um elenco talentoso, da redescoberta de Pedro Nunes – cuja peça esteve em processo de residência no Centro de Criação em Candoso –, da constatação do crescimento da visão artística de uma criadora vimaranense (Rita Morais), ou da viagem por Shakespeare de um modo surpreendente, pela mão de Marco Paiva.
cardapio.pt @ 7-5-2025 15:34:00
Além do espetáculo
Mas os Festivais Gil Vicente são muito mais que a soma dos seus espetáculos, interligando-se com um programa que integra oficinas de formação, debates, momentos de interação do público com os artistas e exercícios de visão crítica cruzada, capazes de fazer movimentar a comunidade artística e a população em torno de uma prática há muito enraizada no território.
Em junho encontramo-nos nos auditórios, foyers e sala de ensaios (CCVF), no museu (CIAJG), ou no salão nobre (Teatro Jordão). E, também, em todos os espaços comuns que fazem o teatro respirar como nunca.
Uma organização conjunta d'A Oficina, do Município de Guimarães e do Círculo de Arte e Recreio, os Festivais Gil Vicente 2025 têm pontapé de saída marcado para a quinta-feira 5 de junho com a estreia absoluta de “Se Não For Tu”, de Era Rolim, um dos projetores vencedores da 3ª edição do Projeto CASA – iniciativa d’A Oficina (através do Centro Cultural Vila Flor), d’O Espaço do Tempo e do Cineteatro Louletano que procura incentivar a experimentação e a emergência de novas linguagens cénicas, apoiando a renovação do tecido artístico nacional. Esta coprodução é uma obra coreocinematográfica que transita entre o teatro e o cinema. A trama acompanha Sueli, uma mulher marcada pela perda trágica dos pais num acidente de carro, um acontecimento que a deixou com uma obsessão: saber o que aconteceu nos 30 segundos que antecederam a fatalidade. Na sua busca por respostas, Sueli dorme e mergulha em universos surreais, onde os seus dilemas éticos e psíquicos são desafiados a cada passo.
“Corre, bebé!”, de Ary Zara e Gaya de Medeiros, é apresentado em estreia absoluta na sexta-feira 6 de junho, sendo o projeto vencedor da 7ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço, uma iniciativa d’A Oficina (através do Centro Cultural Vila Flor), do Teatro Nacional D. Maria II, d'O Espaço do Tempo e do Teatro Viriato. “Corre, bebé!” é um conjunto de reflexões sobre os conflitos e desejos da parentalidade. Um casal de pessoas trans, situadas num cenário pós-apocalíptico pensa sobre o que pode ser gerar bebés nesse contexto. Expetativas, problemas conjunturais e inseguranças são abordados de forma poética, desenhando os receios e sonhos que podem surgir ao acompanhar o desenvolvimento de uma nova pessoa num futuro incerto. No final do espetáculo, o público terá a oportunidade de se juntar aos artistas numa conversa informal e em discurso direto. Estas duas novas criações, resultantes das bolsas de criação, vão estar em residência artística prévia no Centro de Criação de Candoso (CCC), em Guimarães.
Entrando com entusiasmo no fim de semana, no sábado 7 de junho, a "Enciclopédia da vida sexual", com texto e encenação de Pedro Gil, cocriada e interpretada por Ana Isabel Arinto, Danilo Da Matta, Diogo Andrade, Katrin Kaasa, Mário Coelho, Pedro Gil, Raquel Castro, Sara Inês Gigante e Tânia Alves (Voz Off), fecha a primeira ronda de espetáculos com esta peça de artesanato cómica. Nesta obra, a protagonista tinha prometido a si mesma que não voltaria a acontecer, mas aconteceu. Apaixonou-se de morte por um monogâmico convicto e, com receio de o perder, omite-lhe que é poliamorosa. Mas isso não bastará. Terá também de contar com a cumplicidade da sua família e amigos, que a tentam ajudar, o mais que podem. A apresentação desta peça conta igualmente com uma conversa pós-espetáculo com o criador Pedro Gil, sendo todo o público convidado a participar na mesma.
Após um pequeno salto entre espetáculos para a quinta-feira 12 de junho, os Festivais Gil Vicente ganham novo fôlego para nos apresentar a “Matriarca ‘74”, de Pedro Nunes, uma peça que é uma conversa entre uma avó e um neto – uma atriz e um ator –, sobre o poder revolucionário da voz, da escuta e do silêncio. Sobre o feminismo de uma mulher septuagenária, um Abril por cumprir, as dinâmicas próprias a uma família de artistas e os medos do amanhã. Com texto e interpretação de Isabel Passarito e Pedro Nunes, convoca-se o tempo da calma e dos abraços, numa diluição performativa da ficção com o autobiográfico. Pedro Nunes foi um dos cinco artistas selecionados pelo programa “Artistas Douro” da mala voadora, que contou com o apoio d’A Oficina e o financiamento da Câmara Municipal do Porto.
O caminho desta edição segue com "Viagem a Lisboa", de Joana Cotrim e Rita Morais, uma coprodução A Oficina/Centro Cultural Vila Flor e Teatro-Cine de Pombal, que nos chega na sexta-feira 13 de junho. Interpretado por Fernando Nobre, João Pedro Vaz, Joana Cotrim, Miguel Nunes, Mónica Garnel, Rita Morais, este é um espetáculo que procura aprofundar, através de uma narrativa ficcional, o contexto histórico do passado familiar das artistas, a partir de um texto original de Isabela Figueiredo em diálogo com o álbum “Diz À Mãe Que Está Tudo Bem” do músico Silk Nobre. Neste espetáculo-concerto, a família surge como contexto nuclear para abordar tensões sociopolíticas, como o colonialismo, o racismo e a experiência dos "retornados”. Após o fim deste espetáculo, Joana Cotrim e Rita Morais juntam-se com o público para um novo momento de partilha que coloca a todos em contacto direto para uma conversa em torno desta criação.
Esta celebração do teatro culmina de forma imperiosa no sábado 14 junho com "Ricardo III", de Marco Paiva. Neste espetáculo, inspirado em William Shakespeare, o encenador Marco Paiva transforma o assassinato de Ricardo III na possibilidade de renascimento de um teatro mais diverso, atento e dialogante com outras linguagens e línguas. Parte da bestialidade Humana para encontrar um lugar coletivo mais feliz e parte da não-normatividade física de uma personagem bélica e ego-centrada para defender que a norma pode levar-nos à alienação e à ausência de empatia. Contando com um elenco constituido por Ângela Ibañez, David Blanco, Marta Sales, Tony Weaver, Maria José Lopez e Vasco Seromenho, este espetáculo é interpretado em Língua Gestual Portuguesa e Língua de Signos Espanhola, sendo legendado em Português. Após o desenlace imposto por esta criação, teremos ainda um último fôlego desta 37ª edição dos Festivais Gil Vicente com uma conversa pós-espetáculo que aproximará Marco Paiva do público.
Todos os espetáculos têm início marcado para as 21h30 e os respetivos bilhetes custam entre 5 e 10 euros, encontram-se disponíveis online em oficina.bol.pt e www.ccvf.pt e presencialmente nas bilheteiras dos equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG), a Loja Oficina (LO), ou o CAO dos Fornos da Cruz de Pedra, bem como nas lojas Fnac, Worten e El Corte Inglés.
Nesta edição, o programa de espetáculos será reforçado com oficinas de formação, de interação e de processamento de matéria crítica, capazes de criar uma dinâmica de proximidade entre a comunidade artística e o público. No sábado 7 e domingo 8 de junho, das 10h00 às 13h00, teremos uma Oficina de Dramaturgia "A minha primeira autoficção" com Bruno dos Reis, Gaya de Medeiros e Mário Coelho, que, a partir de três práticas artísticas distintas, propõe elaborar uma série de exercícios que ponham em ação a única coisa que interessa: brincar, da forma mais séria possível. Esta oficina dirigida a maiores de 18 anos tem participação gratuita, mediante inscrição prévia através do formulário online disponível em www.aoficina.pt.
Também neste sábado (7 junho), às 16h00, com entrada gratuita, decorrerá o debate "Depois do canudo, a carreira por um canudo?" com a participação de Siobhan Fernandes, Rita Morais, Rita Fernandes, Eduardo Nunes, e moderação de Simão Freitas. Um tempo e espaço para debater a situação de centenas de recém-licenciados na área do Teatro e das Artes Performativas que todos os anos entram para uma nova espécie de purgatório: os telefonemas que não chegam, os castings que não aparecem, as candidaturas que não resultam. Na tarde do dia seguinte, 8 de junho, das 14h30 às 18h00, haverá oportunidade para participarmos numa Masterclass de Interpretação com Pedro Gil: “Lições de Teatro” é um projeto de investigação mascarado de formação iniciado pelo próprio em 2019, consistindo em sessões práticas onde se ensaiam respostas para a pergunta “o que é que o teatro pode ser?”. Dirigida a maiores de 18 anos, esta masterclass tem participação gratuita, mediante inscrição prévia através do formulário online disponível em www.aoficina.pt.
No derradeiro dia desta celebração, terá lugar o debate "Teatro Português, quo vadis?" no sábado (14 junho) pelas 16h00, com Mafalda Banquart, Guilherme Gomes, Inês Barahona e moderação de Simão Freitas. Neste momento de entrada gratuita, abrir-se-á o debate no rescaldo de mais um festival que trará a palco várias vozes jovens provenientes um pouco de todo o país – uns mais estabelecidos e consagrados, e outros que estarão a começar agora um trajeto que se espera ser tão longo quanto rico.
Durante o festival, estará também ativo o "Hipertexto", que nos acompanhará ao longo destas duas semanas, colocando artistas (12 vozes do panorama teatral português) a dialogar entre si, em formato de uma imaginada correspondência por escrito, a partir de um espetáculo que aqui tenham presenciado. É assim esperado que novas portas se abram para outros mundos, outros modos de ver, num tempo em que escasseia a escrita sobre espetáculos para lá da nota de agenda e da nota de intenções criativa.
Imagem "Ricardo III", Marco Paiva © Geraldine Leloutre
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